Leslie Aloan
1. Presidente
do Instituto Nacional de Assistência à Saúde e Educação
2. Prof.
Titular em Cardiologia do Instituto Carlos Chagas
3. Mestre e Doutor em Cardiologia pela UFRJ
4. Fellow
do American College of Cardiology
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No
dia em que se dedica ao livro didático, uma breve história da educação é
apresentada.
1- A Educação nas
sociedades pré-históricas
A pré-história é assim definida
como a época quando não existia ainda a
escrita. Nesta época, a evolução do
conhecimento do jovem passava de uma fase a outra, através de ritos de iniciação. O papel educativo desses
ritos era de máxima importância no processo de integração do jovem na sociedade.
Era precedido por um período de provação em que o candidato deveria aprender a suportar a fome, a dor e várias
formas de privação, como também mostrar o domínio dos conhecimentos necessários
para a vida de adulto". (GILES, 1987, p. 5)
Desde o início do Período
Paleolítico até os dias de hoje, foram
600.000 anos. Este tempo foi o suficiente para ocorrerem perto de 30.000
gerações, já que a expectativa de vida era de 30 anos à época e a fertilização
precoce. As últimas 10.000 gerações já
foram fecundadas pelo Homo sapiens. Comparativamente, em 2.012 anos da Era Cristã
as gerações católicas não passam de 100, baseando-se na expectativa de vida que
avançou de 30 a 77 anos no período. No
Brasil, com 513 anos de existência
e uma expectativa média de vida
de 55 anos no século XVI-II até os atuais 73 anos, não seríamos
mais do que 25 gerações de brasileiros. Estas grandezas temporais são
algo de difícil compreensão, mas ficam mais entendíveis colocadas desta forma.
É algo assustador saber que o
homem demorou 29.000 gerações para falar, e em mais apenas 1.000 gerações
desenvolveu a escrita. Precisou de apenas mais 200 gerações para construir o
Império Romano. Em mais oitenta gerações foi à Lua e enviou artefatos a outros
planetas, desenvolveu as células tronco, desvendou o genoma humano e dominou o
ciclo do átomo. Além disso, aumenta a
expectativa de vida em 5 meses a cada ano neste país.
2- A educação nas
sociedades após a pré-história
Com o desenvolvimento das
sociedades organizadas os integrantes da classe dominante criaram mecanismos
para oferecer aos seus filhos, mais do que os conhecimentos místicos. Para
manter a máquina do Estado era necessário dominar os conhecimentos e já se
fazia necessário o domínio da escrita.
"À casta sacerdotal deve-se o
primeiro sistema de ensino formal, motivado pela necessidade de formar o
sacerdote escriba, guardião da ordem religiosa e encarregado da administração
da sociedade, membro da classe dos baluartes do absolutismo político e da ordem
sócio-econômica" (GILES, 1987, p. 7).
Especificamente no Egito se pode
observar, ao lado da estratificação sócio-econômica, uma estratificação no
processo educacional. A criança permanecia com os pais até os seis anos, quando
era levada para escolas: elementares e superiores, sendo essas reservadas apenas
aos filhos das elites. "A instrução mais importante era dada nas escolas
superiores, que estavam nos templos e recolhiam os alunos até os 17 anos. Frequentavam-nas
os destinados aos cargos de escribas e a outras funções do Estado"
(LUZURIAGA, 1983, p. 28)
2. a- A Educação no
mundo grego
Nesse contexto desenvolve-se o culto aos
heróis a serem imitados que originam da Ilíada
e da Odisséia. Entre os mais conhecidos foram aqueles desenvolvidos em Esparta
e em Atenas.
No modelo espartano todo o processo educativo está voltado
para os interesses do Estado militarista.
"O estado de guerra
permanente leva a imposição de uma disciplina férrea que subordina o indivíduo
totalmente ao Estado. O bem do Estado é o valor supremo.O processo educativo é
estritamente controlado pelas autoridades políticas, pois as crianças nascem e
são criadas para o serviço do Estado."(GILES, 1987, p. 13).
Nessa cidade-estado o cidadão
"enviava o filho a três tipos de escola elementar: a palestra, ou escola
de ginástica, a escola de música e a escola de escrita" (GILES, 1987, p.
14).
2. b- A Educação no
mundo romano
A sociedade romana recebeu
influências dos vários povos que conquistou. Por essa razão se diz que o mundo
romano foi um mundo eclético e pragmático. Eclético porque soube tirar proveito
de todas as informações e conhecimentos que estavam presentes entre os povos
dominados. Pragmático porque soube tirar proveito de todos os conhecimentos
disponíveis, para ampliar a dominação.
Em linhas gerais, podemos afirmar que o objetivo da educação
romana era a formação para o estado. O jovem era formado para ser útil à
pátria, manter os valores e instituições tradicionais.
Inicialmente a criança permanecia ao lado dos pais com quem
aprendia a cumprir com seus deveres para com o Estado. Como jovem passava a
observar os mais velhos para aprender pelos seus exemplos. Por volta dos 16
anos, a partir de alguns ritos de iniciação recebe a veste de adulto e "a
partir de então, sua educação é entregue a um parente ou amigo da família, que
concorda em ensinar-lhe o essencial na arte guerreira e agrícola." (GILES,
1987, p. 33). Aprende, também, a ler, escrever e a história nacional, para
melhor cultuar seus heróis.
No processo expansionista Roma conquista a Grécia. "A
conquista da Grécia leva, inexoravelmente, à helenização de Roma. Os escravos
levam para lá elementos importantes da cultura grega: a filosofia, as Artes e
Ciência, a Retórica, a Gramática" (GILES, 1987, p. 33). Isso faz com que o
programa de estudos se altere e passe a ser dividido em três etapas. "A
etapa primeira consiste na leitura e na escrita do grego e do latim; a segunda
consiste em estudos de Gramática, de Filosofia, e de Literatura; a terceira
etapa, ou nível superior, compreende o estudo técnico da Retórica, da Dialética
e da Filosofia" (GILES, 1987, p. 35). Mas isso tudo com uma só finalidade:
preparar para a vida política; os conhecimentos, portanto, precisam ser
aplicáveis à vida.
3- Educação Medieval
O que chamamos de Idade Média são os mil anos que se
estendem do século V até o século XV. Como não poderia ser diferente, num
período assim longo as experiências sócio-econômico-políticas e educacionais
foram se alterando. Durante esse tempo os modelos de educação vinculados à
Igreja passaram das escolas paroquiais para as monásticas e episcopais e as
escolas das catedrais; surgiram também as escolas palatinas e a partir do
século XI-XII surgiram as universidades.
As escolas Paroquiais nada mais eram do que alguns rapazes
reunidos ao redor de um padre, que lhes ensinava os rudimentos do cristianismo
com finalidades eclesiásticas. Com a expansão do cristianismo e o aumento de
seu poder de influência, duas novas modalidades se desenvolveram: as escolas
Monásticas e as Episcopais. Ambas, entretanto, tinham por objetivo a difusão e
preservação do cristianismo. "Nos mosteiros, o essencial era,
naturalmente, a vida religiosa, e só subsidiariamente a cultural e
educacional" (LUZURIAGA, 1983, p. 79). Isolavam-se das cidades para mais
se dedicarem à vida religiosa. Por sua vez as escolas Episcopais eram mantidas
sob a supervisão de um bispo que se dedicava a formação do clero secular.
Nestas por vezes estudavam também os filhos dos nobres, não em vista da
erudição ou do desenvolvimento pessoal, mas para aprofundarem os conhecimentos
das doutrinas cristãs.
O mundo urbano estava operando várias transformações não só
na sociedade civil, como também no seio da igreja. Mas essas transformações
provinham das relações comerciais e da urbanização: estamos no começo do
processo do renascimento e a preocupação não estava na instrução, mas na
orientação para as práticas cristãs.
O mesmo se repetiu na Inglaterra e em outras localidades. A
grande importância dessa obra foi o fato de ter aberto o precedente para o
início da educação "secular, estatal" a qual "firmou precedente
valioso no processo posterior da educação pública" (LUZURIAGA, 1983, p.
82). O passo seguinte foi o surgimento das universidades.
4- As universidades
Até o século XI a Europa se manteve fechada nos feudos e nas
determinações estabelecidas pela Igreja. A partir desse período, o retorno dos
cruzados, o surgimento da burguesia, o avanço islâmico, as relações comerciais
e a importância do sistema monetário, entre outros elementos, foram condições
que ajudaram a por em xeque os valores e a postura fechada do cristianismo.
Até o século XI não se pode dizer que havia universidade. É
mais correto dizer que a universidade medieval era uma assembléia de
profissionais de alguma área específica. Ou ainda um grupo de pessoas que se
dedicavam a alguma ciência. Lembrando, também, que ciência, aqui, era uma
designação de saber e não de pesquisa científica, como entendemos na
atualidade.
"A palavra universidade - universitas - era empregada na Idade Média para designar qualquer
assembléia corporativa, fosse ela de sapateiros ou de carpinteiros. Nunca era
empregada em um sentido absoluto, de modo que a expressão Universidade de
Bolonha, por exemplo, era apenas uma abreviação da expressão Universidade de
Mestres e Estudantes de Bolonha. No início, as universidades não passaram de
reuniões livres de homens que se
propuseram ao cultivo das ciências" (PONCE, 2001, p. 97. Grifos no
original).
Sendo assim, podemos dizer que as origens da universidade se
ligam à organização de associações profissionais.
"Paralelamente ao surgimento da economia mercantil das
cidades e à sua organização em comunas, um novo processo se introduz na
instrução, com o aparecimento dos mestres livres que, sendo clérigos ou leigos,
ensinam também aos leigos. Munidos da licentia
docendo concedida pelo magischola,
ensinando fora das escolas episcopais e frequentemente, para evitar
concorrência, fora dos muros da cidade (extra muros civitatis), eles
satisfaziam às exigências culturais das novas classes sociais" (MANACORDA,
2006, p. 145. grifo no original).
Aqui e ali aparecem também escolas livres de outras
disciplinas. É possível que justamente desses mestres livres, que atuavam junto
às escolas episcopais e sempre sob a tutela jurídica da Igreja (e também do Império),
tenham nascido em seguida as universidades" (MANACORDA, 2006, p. 145).
Esses primeiros centros de ensino se especializaram em áreas
específicas (MANACORDA, 2006), voltavam-se principalmente para o ensino das Sete
Artes, Medicina e do Direito. Nessas primeiras universidades, havia "campos
bem distintos de ensino: Artes Liberais, Medicina e Jurisprudência e Teologia".
(MANACORDA, 2001, p. 146).
Sendo uma instituição que nascia sob os auspícios da
burguesia, não tardou em se assumir como um espaço liberal e com isso a burguesia podia participar de
vantagens da nobreza e do clero, sem pertencer a esses estamentos. E, no
transcorrer do tempo, a partir da Revolução Francesa, passou a determinar os
rumos da economia e o direcionamento da política.
E para entender essa dinâmica, somos levados ao estudo não
só da história da Educação, mas ao desenvolvimento da universidade. Observamos
que o aparecimento das universidades se liga não ao desenvolvimento intelectual
da pesquisa, do ensino e da extensão, como ela é pensada nos dias atuais, mas
como um dos espaços de ascensão da burguesia.
5 – A Educação a
Distância
O INASE inicia em breve com cursos a distância. No entanto
este tema será abordado em um próximo momento.
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