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quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Medicina na Pré História - Parte 2

Leslie Aloan, Presidente do INASE

Dando continuidade ao assunto da semana passada, descreveremos algumas condições específicas da Medicina pré-histórica.

A. As ervas medicinais: Os homens usam plantas medicinais há pelo menos 40 mil anos. Não há provas diretas, mas arqueólogos desconfiam que plantas do gênero Aneilema eram usadas para evitar a gravidez, enquanto a borragem provavelmente já era usada para amenizar os sintomas da tensão pré-menstrual nas mulheres e como afrodisíaco para os homens. O uso de ervas com o intuito terapêutico data de longo tempo atrás. Durante o longo aprendizado sobre as plantas comestíveis, os seres humanos na idade da pedra também identificam muitos que parecem curar doenças ou aliviar uma febre. Provavelmente a mais antiga evidência para a utilização de uma planta medicinalmente ativa é o uso da papoula do ópio, datada de 5.000-4.500 a.C.

Os restos do homem do gelo Oetzi mumificados naturalmente pelo gelo, que viveu 5.300 anos atrás, foram encontrados nos Alpes, há poucos anos atrás. Muitas teorias tentam explicar certos achados. Por exemplo: teria se alimentado fartamente pouco antes da sua morte.  Havia utilizado o fungo Piptoprus betulinus para tratar um parasita intestinal. Estes fungos contêm óleos que são tóxicos para vermes e têm propriedades antibióticas, indicando que os seres humanos antigos adotaram terapias eficazes para doenças comuns apesar de atribuírem a doença como um castigo dos Deuses e a ira dos espíritos malignos Foi morto atacado por um grupo de pelo menos três pessoas, tendo sido ferido com uma flecha nas costas.
Nos últimos anos, foram relatadas evidências que chimpanzés e outros primatas praticam a auto medicação (Sumner, 2.000). Certos vegetais tóxicos em grandes quantidades são ingeridos de forma controlada por eles para tratar parasitas intestinais e infecções diversas. Já foram observados o uso de mais de 30 tipos destes vegetais e aparentemente é um instinto inato e não aprendido por ancestrais. Outros recursos  foram observados como medicação por estes primatas como a ingestão do carvão vegetal  e da argila de kaolin, para o tratamento da diarreia.

B.  Shamanismo: Pessoas especiais, como o xamã, foram capazes de  entrar em contato com o mundo dos espíritos e buscar a sua orientação quando entraram em  transes misteriosos. Estes homens e mulheres comunicavam-se com os espíritos para trazer boa caça ou curar os enfermos e possivelmente foram os primeiros médicos. Espíritos curandeiros realizavam cerimônias e lançavam feitiços para tratar os doentes. Beber o sangue de um animal selvagem morto na caça daria aos caçadores poderes especiais. Comer plantas só conhecidas pelo xamã também era uma forma de tratamento de doenças. É possível que estes tratamentos, por vezes, teria um efeito benéfico e pensa-se que drogas como digitalis e morfina  poderiam ter sido empregadas já nesta época. Encantamento, feitiços e transes (muitas vezes provocadas por medicamentos à base de plantas) formam a prática padrão do homem de medicina ou Xamã. Uma pintura na Trois Frères, caverna na França, com cabeça de veado ou máscara foi pensada por alguns para representar o primeiro xamã ou Padre curandeiro. Outro fragmento Paleolítico mostra uma rena pisando sobre uma mulher grávida.

C. Promessas e oferendas: A oferenda de objetos ao enfermo, claramente solicitava a cura, já que eram depositados partes do corpo referentes ao local da doença.

D. Procedimentos:
1.         Trepanação: é o procedimento cirúrgico através do qual é realizado um orifício no osso do crânio, atingindo o cérebro. Exemplos deste procedimento datam do período Neolítico. A trepanação poderia ter tido um propósito mágico-médico de expulsar um demônio, como tem sido observado em alguns povos primitivos. Por outro lado, poderia ter sido um tratamento de fraturas com hemorragia intracraniana. Na verdade, a  trepanação pode ter sido empregada em momentos diferentes para todas as razões acima. Os exemplos mais antigos foram datados de 5.200-4.900 a.C. e mais recentemente foi encontrado no cemitério do Dnieper, nas corredeiras Vasilyevka II perto de Kiev, na Ucrânia outros crânios mais antigos datados de 7.300.-6.220 a.C. Em ambos os achados, os crânios observavam-se extensiva remodelação de osso e encerramento quase completo de trepanação, indicando a sobrevivência dos pacientes operados. Os dados disponíveis, analisando mais de 4.000 crânios submetidos a este procedimento encontrados na Dinamarca, Suécia e Grã Bretanha, sugerem: alto índice de sobrevida,( 80% ) já que havia regeneração do osso do crânio; a maioria eram homens ( 95% ); o método mais utilizado na sua grande maioria ( 80% ) foi o da raspagem gradual do crânio; alguns crânios mostram múltiplas trepanações ( em casos até 4 ) no decorrer de um período; a maioria era do lado esquerdo do crânio; foi muito utilizado no período neolítico, e progressivamente abandonado na idade do Bronze. Se a grande motivação foi religiosa, mística ou médica nunca saberemos. Aparentemente a grande maioria era para aliviar a pressão intracraniana elevada devido a quedas ou  lutas, explicando porque a grande maioria ocorria em homens e do lado esquerdo do crâneo. Aparentemente a convulsão era outra indicação, já que era comum à época e interpretada como ira dos Deuses.

2. Amputação: Mesmo com escassos registros, as análises arqueológicas estabelecem algumas relações concretas da ação médica na pré-história. Roberts e Manchester, em 1995, afirmaram que não existem registros de amputações na pré-história, só ocorrendo durante a IX Dinastia egípcia. Explica este fato pela dificuldade de hemostasia da hemorragia maciça decorrente do procedimento e pela crença de que o homem ao morrer deveria ser enterrado o mais perto possível da sua forma natural.  No entanto, João Bosco Botelho afirma que a ação intencional do homem sobre o homem com intenção de mudar o curso da morte data de 25.000 anos, com o achado do osso do braço de um Neanderthal submetido à amputação. A cirurgia foi bem sucedida e o homem viveu muito tempo após a intervenção cirúrgica.

3. Tratamento de fraturas: Alguns achados mostram claramente que existiu a consolidação de fraturas, que com certeza houve intervenção humana, já que consolidaram alinhadas.

4. Acupuntura: O próprio homem do gelo, de Tirol, apresentava tatuagens que inferem ser uma forma de tratamento, a acupuntura, no alívio da artrose que Oetzi era vítima.

5. Odontologia: Extrações dentárias, de fato, parecem ter sido mais amplamente praticadas nas cidades do que em áreas rurais.  Provas anteriores ainda para odontologia têm sido relatadas por Bennicke (1985). Um crânio de um túmulo do período neolítico, na Dinamarca, datado de 3.200-1.800 a.C. mostra um orifício em um dos molares superiores, aparentemente manipulado  por terceiros, com sucesso.

 
          Fica aqui um pouco que se tem notícia dos recursos e crenças da época. 

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