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quinta-feira, 3 de julho de 2014

O Vinho e o Coração - II

Leslie Aloan, Presidente do INASE

Escrevemos há pouco sobre o assunto. No entanto, volto a ele, com outro enfoque, visto que o INASE estará promovendo um curso e uma degustação com informações sobre o vinho: prazer, harmonização, saúde.

Estaremos divulgando o Programa em breve, coordenado pelo Prof. Alexander Cordeiro (alexander.cordeiro@yahoo.com.br). A partir do final do século XIX, o alcoolismo foi definido como doença e os malefícios de seu consumo indiscriminado começaram a ser estudados. Nas décadas de 1970-80, o consumo de álcool foi fortemente atacado por campanhas de saúde pública exaltando as complicações de seu uso em excesso. Entretanto, várias pesquisas científicas bem conduzidas têm demonstrado que, consumido com moderação, o vinho traz vários benefícios à saúde.

O Paradoxo Francês

Um grande debate sobre a relação entre vinho e saúde ocorreu no início da década de 90 com a divulgação do Paradoxo Francês. Durante um programa da televisão CBS nos EUA de Marley Safer, em 17 de novembro de 1991, o cientista francês Serge Renaud mostrou que estudos epidemiológicos em escala mundial evidenciaram que os franceses apresentavam 2,5 vezes menos mortes por doenças coronarianas que os americanos, apesar de fumarem muito e consumirem a mesma quantidade de gorduras. A principal explicação para tal paradoxo estaria no consumo regular e moderado de vinho. Como era de se esperar, após a transmissão do programa, o consumo de vinho tinto nos EUA multiplicou por 4.

Tal paradoxo foi, posteriormente, publicado na revista inglesa The Lancet, uma das mais conceituadas revistas médicas do mundo, dando início a um grande número de publicações, mais de 13 mil artigos e aparentemente o vinho tinto teria uma ação cardioprotetora.
Na atualidade, o que se aceita como verdadeiro é que os componentes fenólicos, polifenóis e flavonoides, contribuintes ativos nas propriedades sensoriais do vinho, atuam de forma benéfica para a saúde.
Desde a Antiguidade o vinho foi utilizado como remédio para o coração. Omar Khayyam, poeta persa que foi provavelmente quem mais escreveu sobre vinhos, falecido em 1123, diz em um dos seus poemas:
“Vinho! Eis o remédio que carece o meu coração doente. Vinho com perfume almiscarado! Vinho cor-de-rosa!”

Um grupo internacional de cientistas descobriu que problemas cardiovasculares existem desde os primórdios da humanidade. Os pesquisadores identificaram a formação de placas de arteriosclerose em múmias com cerca de 3,5 mil anos.
O endurecimento da parede arterial, causada pelo depósito de gordura, cálcio ou outras substâncias na parede das artérias, pode provocar infarto ou acidente vascular encefálico. O estudo foi apresentado em reunião da American Heart Association em 17/11/2009, em Orlando, nos Estados Unidos, por Randall Thompson, professor de medicina do Mid America Heart Institute. O grupo usou tomografia computadorizada para examinar 20 múmias do Museu de Antiguidades Egípcias, no Cairo. As múmias datam de 1981 a.C. a 364 d.C.

Segundo o estudo, a calcificação se mostrou significativamente mais comum em múmias de indivíduos que morreram com idade estimada de 45 anos ou mais. Não foram verificadas diferenças no endurecimento nas artérias entre homens e mulheres.
Das múmias analisadas, a mais antiga com arteriosclerose morreu entre 1570 a.C. e 1530 a.C. De acordo com o grupo, o trabalho é novo indicador de que a doença não é exclusiva do homem moderno, uma vez que se fazia presente há mais de 3 mil anos.
Demoramos 3.500 anos para poder provar o vinho que é servido no Curso. Sem culpas e com orgulho. Nos veremos lá.

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