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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A História da Bebida Alcoólica no Mundo - Parte I

Leslie A. Aloan, Presidente do INASE

Quem descreve este assunto de forma bastante agradável é o jornalista Bruno Garattoni, em artigo publicado na revista Superinteressante, de setembro de 2008, que passamos a sumarizar.
 Alguém, um dia, descobriu que era possível fazer novas plantas a partir das suas sementes. Assim nascia a agricultura e, com ela, a bebida.

A primeira poção alcoólica foi preparada na China, por volta do ano 8.000 a.C. A análise de jarros encontrados em Jiahu, no norte do país, mostrou que eles continham arroz, mel, uvas e um tipo de cereja, tudo fermentado. Não se sabe exatamente a graduação alcoólica dessa poção, mas uma experiência revelou pistas. “Fica entre a cerveja e o vinho”, revela o arqueólogo e químico Patrick McGovern, da Universidade da Pensilvânia, que reproduziu a receita em laboratório e achou o resultado um pouco amargo.

A civilização dos sumérios, no atual Iraque, aperfeiçoou a fórmula e criou 19 tipos de bebida alcoólica. Dezesseis deles à base de trigo e cevada, e assim foi criada a cerveja  há dois mil e quinhentos anos antes de Cristo. Era uma bebida de elite, para os aristocratas sumérios. No entanto, os trabalhadores braçais começaram a utilizar esta bebida. Cada um dos trabalhadores que construíram as pirâmides de Gizé, no Egito, ganhava 5 litros de cerveja por dia. Beber cerveja já havia se tornado um hábito comum. Então, a elite começou a migrar para outro tipo de bebida alcoólica: o vinho. O rei Tutancâmon, que morreu em 1.300 a.C., foi sepultado com 26 jarras de vinho, de 15 tipos diferentes.

“Por volta do ano 1.000 a.C., o álcool já era consumido por todas as civilizações, da África à Ásia”, afirma o inglês Iain Gately em seu livro Drink: A Cultural History of Alcohol. Os gregos cultivavam nada menos que 60 variedades de vinho.

Em Roma, o vinho adquiriu relevância geopolítica. Ele passou a ser produzido em grande escala. Ele também era considerado um remédio.

No século XIV, a peste negra se espalhava pela Europa, matando 90% das pessoas que infectava. Mas, quando a epidemia chegou à cidade de Oudenburg, na Bélgica, o abade local proibiu o consumo de água e obrigou os cristãos a beber só cerveja. E muitos deles sobreviveram à peste (pois a cerveja, graças ao álcool, era menos contaminada que a água). O abade foi canonizado, e virou o padroeiro da cerveja – Santo Arnoldo.

Com o fim da epidemia, a Europa se recuperou e começaram as Grandes Navegações. Nelas, mais uma vez, o álcool teve um papel central. A expedição comandada pelo português Fernão de Magalhães conseguiu dar, pela primeira vez na história, uma volta completa no globo terrestre. Magalhães investiu mais em bebida do que em armas, e sua esquadra de 5 navios carregava um gigantesco suprimento de vinho (cujo valor seria suficiente para comprar mais duas caravelas).
O navio Arbella, no qual os ingleses foram colonizar a América, levava inacreditáveis 40 mil litros de cerveja e 40 mil litros de vinho - e acreditem - apenas 12 mil litros de água. Era o grande segredo dos navegadores.

Em torno do século XVII, a produção de cachaça foi proibida no Brasil, visto que Portugal queria garantir o mercado local para seus vinhos. Então, os senhores de engenho começaram a exportar, clandestinamente, a bebida para Angola, trocando por escravos. Os ingleses também faziam isso. Em 45 anos, trocaram 5,2 milhões de litros de bebida por 60 mil escravos, a um valor per capita de 86 litros de rum, o que dá aproximadamente R$ 1.000,00 em valores atuais.

Teve influência na Independência dos EEUU. Em 1764, a Inglaterra restringiu o comércio de bebida alcoólica, que os colonos americanos importavam e exportavam em grande quantidade. A insatisfação americana explodiu 11 anos mais tarde, liderada pelo general George Washington, dono de uma fábrica de uísque, independente de suas posições políticas. Cada soldado americano, durante o combate, tomava 1 litro de rum por dia. Em 1776, a Declaração de Independência dos EUA foi escrita por Thomas Jefferson num bar, e o primeiro a assiná-la foi um contrabandista de vinho, John Hancock.

A Revolução Industrial mudou completamente a fabricação de bebidas: elas ficaram mais baratas e passaram a ser produzidas em enorme quantidade. Em 1830, cada americano consumia o equivalente a 10 litros de álcool puro por ano, nível superior ao de hoje (8,5 litros), ou seja, 250 litros de cerveja ou 90 de vinho. Foi aí que o alcoolismo, até então apenas uma inconveniência, passou a ser visto como doença séria, e surgiram as primeiras campanhas e associações contra a bebida, que rapidamente conquistaram milhares de adeptos nos EUA.

No século XVI, a Inglaterra tinha 16 mil bares - o equivalente a um bar para cada 187 habitantes. Hoje, existe apenas um bar para cada 529 pessoas.

No mundo, cada pessoa consome em média 5 litros de álcool puro por ano - o equivalente a 125 litros de cerveja, 45 litros de vinho e 12,5 litros de vodca.

A Declaração de Independência dos EUA, no século XVIII, foi escrita num bar.

Não se tem notícias sobre o teor alcoólico dos personagens da nossa Independência, à época.

Os países onde mais se bebe são: República Checa (cerveja) França (vinho) Moldávia (vodca e destilados).

A Cultural History of Alcohol (Iain Gately), Gotham Books, 2008.


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