Leslie
A. Aloan, Presidente do INASE
Quem descreve este
assunto de forma bastante agradável é o jornalista Bruno Garattoni, em artigo publicado na revista Superinteressante, de setembro de 2008,
que passamos a sumarizar.
Alguém, um dia, descobriu que era possível
fazer novas plantas a partir das suas sementes. Assim nascia a agricultura e, com
ela, a bebida.
A primeira poção
alcoólica foi preparada na China, por volta do ano 8.000 a.C. A análise de jarros
encontrados em Jiahu, no norte do
país, mostrou que eles continham arroz, mel, uvas e um tipo de cereja, tudo
fermentado. Não se sabe exatamente a graduação alcoólica dessa poção, mas uma
experiência revelou pistas. “Fica entre a cerveja e o vinho”, revela o
arqueólogo e químico Patrick McGovern,
da Universidade da Pensilvânia, que reproduziu a receita em laboratório e achou
o resultado um pouco amargo.
A civilização dos sumérios, no atual Iraque, aperfeiçoou a
fórmula e criou 19 tipos de bebida alcoólica. Dezesseis deles à base de trigo e
cevada, e assim foi criada a cerveja há dois mil e quinhentos anos antes de Cristo.
Era uma bebida de elite, para os aristocratas sumérios. No entanto, os
trabalhadores braçais começaram a utilizar esta bebida. Cada um dos
trabalhadores que construíram as pirâmides de Gizé, no Egito, ganhava 5 litros
de cerveja por dia. Beber cerveja já havia se tornado um hábito comum. Então, a
elite começou a migrar para outro tipo de bebida alcoólica: o vinho. O rei Tutancâmon, que morreu em 1.300 a.C., foi sepultado com 26 jarras
de vinho, de 15 tipos diferentes.
“Por volta do ano 1.000
a.C., o álcool já era consumido por todas as civilizações, da África à Ásia”,
afirma o inglês Iain Gately em seu
livro Drink: A Cultural History of
Alcohol. Os gregos cultivavam
nada menos que 60 variedades de vinho.
Em Roma, o vinho adquiriu relevância geopolítica. Ele passou a ser
produzido em grande escala. Ele também era considerado um remédio.
No século XIV, a peste negra se espalhava pela Europa, matando 90% das
pessoas que infectava. Mas, quando a epidemia chegou à cidade de Oudenburg, na Bélgica, o abade local
proibiu o consumo de água e obrigou os cristãos a beber só cerveja. E muitos
deles sobreviveram à peste (pois a cerveja, graças ao álcool, era menos
contaminada que a água). O abade foi canonizado, e virou o padroeiro da cerveja
– Santo Arnoldo.
Com o fim da epidemia,
a Europa se recuperou e começaram as Grandes
Navegações. Nelas, mais uma vez, o álcool teve um papel central. A expedição
comandada pelo português Fernão de
Magalhães conseguiu dar, pela primeira vez na história, uma volta completa
no globo terrestre. Magalhães
investiu mais em bebida do que em armas, e sua esquadra de 5 navios carregava
um gigantesco suprimento de vinho (cujo valor seria suficiente para comprar
mais duas caravelas).
O navio Arbella, no qual os ingleses foram
colonizar a América, levava inacreditáveis 40 mil litros de cerveja e 40 mil
litros de vinho - e acreditem - apenas 12 mil litros de água. Era o grande
segredo dos navegadores.
Em torno do século XVII,
a produção de cachaça foi proibida no
Brasil, visto que Portugal queria garantir o mercado local para seus vinhos. Então,
os senhores de engenho começaram a exportar, clandestinamente, a bebida para
Angola, trocando por escravos. Os ingleses também faziam isso. Em 45 anos, trocaram
5,2 milhões de litros de bebida por 60 mil escravos, a um valor per capita de 86 litros de rum, o que dá
aproximadamente R$ 1.000,00 em valores atuais.
Teve influência na
Independência dos EEUU. Em 1764, a
Inglaterra restringiu o comércio de bebida alcoólica, que os colonos americanos
importavam e exportavam em grande quantidade. A insatisfação americana explodiu
11 anos mais tarde, liderada pelo general George
Washington, dono de uma fábrica de uísque, independente de suas posições
políticas. Cada soldado americano, durante o combate, tomava 1 litro de rum por
dia. Em 1776, a Declaração de
Independência dos EUA foi escrita por Thomas
Jefferson num bar, e o primeiro a assiná-la foi um contrabandista de vinho,
John Hancock.
A Revolução Industrial mudou completamente a fabricação de bebidas:
elas ficaram mais baratas e passaram a ser produzidas em enorme quantidade. Em
1830, cada americano consumia o equivalente a 10 litros de álcool puro por ano,
nível superior ao de hoje (8,5 litros), ou seja, 250 litros de cerveja ou 90 de
vinho. Foi aí que o alcoolismo, até então apenas uma inconveniência, passou a
ser visto como doença séria, e surgiram as primeiras campanhas e associações
contra a bebida, que rapidamente conquistaram milhares de adeptos nos EUA.
No século XVI, a Inglaterra tinha 16 mil bares - o equivalente a um
bar para cada 187 habitantes. Hoje, existe apenas um bar para cada 529 pessoas.
No mundo, cada pessoa
consome em média 5 litros de álcool puro por ano - o equivalente a 125 litros de
cerveja, 45 litros de vinho e 12,5 litros de vodca.
A Declaração de
Independência dos EUA, no século XVIII, foi escrita num bar.
Não se tem notícias
sobre o teor alcoólico dos personagens da nossa Independência, à época.
Os países onde mais se
bebe são: República Checa (cerveja) França (vinho) Moldávia (vodca e destilados).
A Cultural History of Alcohol (Iain Gately), Gotham
Books, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário