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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Fundo do Mar

Leslie Aloan, Presidente do INASE


           Silêncio profundo. Abissal. Escuridão total. Bactérias esverdeadas por vezes iluminavam alguns pontos. Ouvindo aquele silêncio me enlouquecia a alma e aquela calma de viver me aborrecia a vida.

Bem, eu morava lá. No fundo do mar. Eu era um ser diferente. Adaptava-me rapidamente. O frio era insuportável. Mas qualquer frio a oito mil metros de profundidade é insuportável.

As criaturas de lá me olhavam tristes, sem saber que lá em cima podia ser muito pior.

Eu sou um tipo de molusco amarelo, meio encantado, belo. Assustado, por ser único aqui. Os habitantes deste lugar são muito exóticos, tiveram que se adaptar à profundeza do mar e à escuridão eterna.

Tenho alguns amigos bizarros, como o tamboril, a carambola do mar e a quimera. Nunca vi monstros e nem dragões nestas paragens. Só sei de sua existência pela minha memória genética. Na realidade o meu genoma não foi ainda decifrado, até porque, felizmente, os humanos não sabem da minha existência. Vou me manter incógnito ate quando puder. São sempre um grande perigo as pesquisas humanas. No entanto, a minha cadeia de DNA não deve diferir muito da sua, visto sermos muito parecidos apesar de aparência diferente. 

Sou pequeno, mas a maioria dos seres humanos também o é.  Tenho frio e tenho fome. Tenho ambições de um dia prosperar e ter uma gruta segura só para mim. Acredito no próximo, apesar de estar sempre me dando mal. Afinal estou quase no final da cadeia alimentar.

Acabam aqui as nossas semelhanças, porque eu não pratico a traição. Morro de cabeça erguida para algum animal mais astuto do que eu que, em luta pela vida, me encontrar no seu caminho. Se tiver que matar para sobreviver, o faço. Mas nunca sem motivação de sobrevivência. Nunca participei de uma guerra ou de um golpe financeiro.

Tendo a consciência de que em algum momento vou ser morto por quem não precisa de mim para sobreviver, o ser humano, despeço-me aqui por falta de assunto com vocês.
Até nunca mais.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Uma visão Multidisciplinar

Leslie de Albuquerque Aloan, Presidente do INASE


   A Medicina moderna torna-se cada vez mais interdisciplinar. Na primeira metade do século passado, um mesmo profissional realizava atendimentos clínicos em seu consultório, cirúrgicos na Clínica de sua escolha com os recursos disponíveis da época e também atendia a clientela pediátrica – era o querido médico de família.
  
   O desenvolvimento e a progressiva ampliação das fronteiras do conhecimento na área médica entraram em cena a figura do especialista e isso mudou radicalmente o perfil do médico assistente – estava estabelecido o grande especialista da cidade grande.
  
   Sociedades de especialidades e sub-especialidades se proliferaram por necessidade de difundir o saber que se adquiria de forma exponencial.
    
  Protocolos foram freneticamente desenvolvidos e com a globalização da informação, entrou-se na era da Medicina baseada em evidências. Este aumento e concentração específicos do saber de determinadas áreas médicas reverteu-se em um excelente impacto positivo, mas também, em contrapartida, isolou os grandes especialistas no limite de sua própria área de conhecimento.
  

  Atualmente, um especialista, pelo excesso de informações e tecnologias disponíveis na mesma área de atuação, só consegue dominar bem a sua própria fronteira, limitando o atendimento de excelência ao seu paciente.  Surge a necessidade do desenvolvimento de equipes multidisciplinares, não somente de categorias profissionais, mas de sub-especialistas em uma mesma área.
 
  I
sto nos remete aos primórdios da angioplastia coronária, onde intervencionistas executavam o procedimento em conjunto com a equipe cirúrgica em retaguarda. Entendo que esta foi a primeira interação de interdisciplinaridade das especialidades na Cardiologia.
     
  É a visão de que estas equipes em suas áreas especializadas detêm o conhecimento necessário da Cardiologia Intervencionista, procedimentos de endo-próteses, ecocardiografia, anestesiologia, principalmente pediátricos, psicólogos, fisioterapeutas e outros, necessários para interagirem como equipe em favor da assistência cardiológica plena e ideal. Hoje é a figura do heart team. As especialidades passaram a conversar a melhor conduta para aquele paciente.
  
   Portanto, a mensagem, é da necessidade urgente da formação de equipes multidisciplinares, visto que o domínio das áreas de atuação específicas se esgotou pelo excesso de atribuições ao especialista, e torna-se absolutamente necessário o intercâmbio com outras áreas afins, que no seu limite do conhecimento possam oferecer o tratamento de excelência que nosso paciente exige e merece, não somente na Cardiologia Intervencionista, mas na Medicina do século XXI, que avança.
  
  
Outras áreas estão surgindo: células tronco, integração online em diferentes espaços geográficos, robótica, biogenética, genoma humano e pessoal, bioética, etc...

   Estaremos presenciando nestes próximos anos uma revolução nunca vivida, e daí para diante, inimaginável!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Presidente do Inase lança livro



Sessão de autógrafos da obra ‘Em Nome do Santo’ ocorreu no Cremerj


Presidente do Instituto Nacional de Assistência à Saúde e à Educação (Inase), o médico cardiologista Leslie Aloan lançou o seu livro, Em Nome do Santo, durante a reunião mensal da Academia Brasileira de Médicos Escritores, no auditório do Cremerj. No evento, Dr. Aloan autografou diversos exemplares, além de falar um pouco mais sobre a obra de ficção.



Doutor em cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com um currículo extenso na medicina carioca, Leslie Aloan possui como segunda paixão o universo literário. Autor de três livros na área de conto e prosa, Dr. Aloan explica que o gosto pela leitura vem da infância.


“Desde criança meus pais me incentivaram a ler e escrever, nunca perdi esse gosto. É sempre um prazer poder desenvolver um novo livro, desde o conceito até sua divulgação”, afirma o cardiologista.


Após escrever o ensaio Da Vida à Imortalidade, que aborda as teorias criacionista e evolucionista, lançado ano passado durante a XVI Bienal do Livro, Leslie divulga agora Em Nome do Santo, obra que se baseia nos conflitos de dois freis diante dos dogmas da igreja católica.


“Esse livro é especial porque é fruto dos meus questionamentos e pesquisas sobre a Igreja Católica. O leitor inicialmente identifica nesta obra um ensaio, mas ao longo da leitura, percebe que se trata de uma ficção. Isso ocorre porque consegui unir a literatura religiosa à leiga, a fim de tratar um assunto tão complexo de forma suave”, explica Leslie Aloan.



O presidente do Inase pretende dar continuidade à produção literária e já tem mais um título à vista, que reunirá crônicas. “Adoro escrever, estou com alguns projetos em mente. Não pretendo parar tão cedo”, finaliza.