Leslie Aloan, Presidente do INASE
Nesse
dia, a floresta toda acordou muito agitada. Todos falavam ao mesmo tempo e até
os animais agiam de modo desassossegado. As vilas estavam enfeitadas esperando
alguma novidade. Era dia 22 de agosto, dia do Folclore.
A
novidade anunciada era o encontro das lendas pela primeira vez. Seria às
margens do rio Solimões, em Codajás, uma pequena cidade com menos de 20 mil
habitantes, em plena floresta amazônica.
Lá
estaria o Boitatá, uma cobra de fogo que protege as matas e os animais.
Persegue e mata aqueles que desrespeitam a natureza. Este mito, de origem
indígena, é um dos primeiros do folclore brasileiro. Este personagem é descrito
em relatos do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o
boitatá é conhecido como "fogo que corre". Foi o primeiro a chegar.
O Boto
tinha presença confirmada e isso agitava as donzelas das cidades na periferia.
Esta lenda também surgiu na região amazônica. Ele é um jovem, bonito e
charmoso, que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, conduz as
jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele
mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto. O Solimões é o seu
rio predileto. As senhoritas que fiquem atentas. Ele estava sendo ansiosamente
esperado.
O Curupira,
assim como o boitatá, também é um protetor das matas e dos animais silvestres.
É um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata
todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos
habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.
A Mãe-D'água
se assemelha muito à sereia, com o corpo metade de mulher e metade de peixe.
Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo das
águas. Nadava à beira do Solimões cantando e mostrando orgulhosamente os seus
lindos cabelos negros.
A
Mula-sem-cabeça é fruto de um romance de uma mulher com um padre. Como castigo,
em todas as noites de quinta para sexta-feira, é transformada num animal
quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas (
apesar de sem cabeça). É a lenda.
A
Comadre Florzinha é uma pequena fada que vive nas florestas do Brasil. Uma
graça. Vaidosa e maliciosa, possui cabelos compridos e enfeitados com flores
coloridas. Vive para proteger a fauna e a flora. Pulava e cantava junto com
suas irmãs. Elas vivem aplicando sustos e travessuras nos caçadores e pessoas
que tentam desmatar a floresta.
Iara,
também conhecida como a “mãe das águas”, oriunda de uma lenda de origem
indígena, é uma sereia morena de cabelos negros e olhos castanhos. Costuma
viver nas pedras das encostas dos rios, atraindo os homens com seu belo e
irresistível canto. As vítimas seguem Iara até o fundo dos rios, local de onde
nunca mais voltam. Os poucos que conseguem voltar acabam ficando loucos em
função dos encantamentos da sereia. Neste caso, conta a lenda, somente um
ritual realizado por um pajé pode livrar o homem do feitiço. Relatam os índios
da região amazônica que Iara era uma excelente índia guerreira. Os irmãos
tinham ciúmes dela, pois o pai a elogiava muito. Certo dia, os irmãos
resolveram matá-la, mas ela se antecipou e os matou primeiro, como defesa.
Fugiu para as matas, mas o seu pai a capturou e, como punição, foi jogada no
rio Solimões. Os peixes que ali estavam a salvaram, e como era noite de lua
cheia, ela foi transformada numa linda sereia.
O Saci-Pererê
também esteve lá. É um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro.
Possuí até um dia em sua homenagem: 31 de outubro. Surgiu entre os povos
indígenas da região Sul do Brasil, durante o período colonial, e ao se expandir
para o norte do país sofreu modificações devido às influências da cultura
africana. O Saci transformou-se num jovem negro com apenas uma perna, pois, de
acordo com o mito, havia perdido a outra numa luta de capoeira. Passou a ser
representado usando um gorro vermelho e um cachimbo, típico da cultura africana.
Apesar de uma perna só, era o mais animado dançarino das festividades.
O
Lobisomem e os vampiros não foram convidados por não serem originários das
matas brasileiras. Aqueles esnobes europeus nem souberam da festa, que durou
três dias e três noites, embalada pela música das tribos locais e pelas comidas
das senhoras das cidades vizinhas. Os pássaros reforçavam a cantoria, e os
outros animais se exibiam em animação nunca vista naquelas paragens. Até a
coruja mal humorada aproveitou a comemoração. Ao final da festança, todos foram
embora, já com data marcada para o fuzuê do ano que vem.
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